O tratamento com psicólogo
Psicoterapia pode realmente me ajudar? É fundamental reforçar que os transtornos depressivos não se limitam às características biológicas, mas tem igualmente implicações psicossociais, e consequentemente trazem efeitos não meramente biológicos, que supostamente poderiam ser atacados pela via medicamentosa, mas acarretam igualmente impactos psicológicos, sociais, profissionais e familiares ao indivíduo.
Nessa medida, as psicoterapias precisam ser implicadas e dirigidas ao tratamento dos acometidos por esse transtorno, pois sabe-se que:
[...] a boa prática clínica solicita múltiplas intervenções, complementando a conduta psicofarmacoterápica, com psicoterapias que envolvam o sujeito como um todo, em seus fatores psicológicos, ambientais, sociais e familiares (OLIVEIRA; COUTINHO, 2006, p. 151).
Pode-se dizer inclusive, que essa clínica psicoterapêutica precisa incluir e acolher o ser humano em sua totalidade. E por totalidade o que se quer afirmar é a inclusão do ser humano em toda a sua complexidade, com sua multifacetada constituição, afastando de pronto o reducionismo biomédico, com sua via psicofarmacológica exclusiva, estreita e ineficaz, conforme Rozemberg e Minayo (2001).
Naturalmente, essa ênfase holística contempla um respeito à singularidade humana, sem generalizações e sem categorizações engessadas, promovendo a tentativa de construção de uma clínica que aborde o sujeito deprimido em sua experiência pessoal e particular, porque “a singularidade da experiência do sofrimento, sua radicalidade e excessos intrínsecos devem ser o horizonte dentro do qual nos movemos.” (OLIVEIRA; COUTINHO, 2006, p. 153).
Sendo portanto imperioso, respeitar e “admirar cada circunstância clínica como um intrincado sistema que possui secretas razões para vir a ser, e que será, sempre irredutível aos esforços epistemológicos.” (PINHEIRO; VERZTMAN, 2010, p.160).
Por outro lado, não se está defendendo uma inespecificidade teórica no tratamento, pois “a singularidade não é incompatível com a clareza das ideias, com o debate científico ou com o ensino de iniciativas clínicas eficazes” (OLIVEIRA; COUTINHO, 2006, p.153).
O que se quer apontar é que não deve ser o paciente a se enquadrar numa descrição nosográfica psiquiátrica e assim seguir à risca um protocolo terapêutico em decorrência desse enquadramento, mas, ao contrário, deve ser o tratamento e o próprio clínico a serem ajustados à singularidade do paciente.
Outro aspecto que merece ser ressaltado, é que no tratamento dos pacientes acometidos pela depressão não se descarta a necessidade da administração dos antidepressivos, o que se questiona é a sua efetividade sem a comutação com a psicoterapia.
Ainda que a efetividade dos antidepressivos seja questionada por vários psicólogos e teóricos, mesmo no âmbito da bio/fisiologia e dos neurotransmissores, não é a intenção desse breve trabalho adentrar em tão profícua e longa discussão.
O que se pretende apenas é apontar que a efetividade de um medicamento psicofarmacológico deve ser atestada pelos cientistas da respectiva área, mas é importante deixar claro que sua efetividade está, evidentemente, restrita aos componentes bio/fisiológicos humanos.
Pois, não sendo o ser humano apenas físico, mas também psicossocial, a psicoterapia revela-se como um caminho necessário e mesmo essencial. E neste viés, pode-se dizer que para os casos de depressão leve, a psicoterapia encontra resultados satisfatórios, não demandando o uso de psicofármacos, tal como afirmado por Oliveira; Schwartz e Stahl (2015).
Já nos casos de depressão grave, sobretudo nos casos que envolvam elementos psicóticos, a combinação de psicoterapias e antidepressivos parece ser a mais indicada, uma vez que a “psicoterapia e a farmacoterapia tem efeitos aditivos ou mesmo sinergéticos no tratamento da depressão. Nesse sentido, um efeito aditivo se refere a dois tratamentos juntos, resultando em melhores desfechos do que seria esperado de cada tratamento sozinho” [...] (OLIVEIRA; SCHWARTZ; STAHL, 2015, p.71).