Depressão, a doença do século! Será mesmo?

5/6 Depressão, a doença do século! Será mesmo?

15/11/2019

Este post é a quinta parte de um artigo de autoria do Psicólogo Domingos.
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A indústria dos psicofármacos

Seria a depressão uma epidemia criada? Seria mercadológica? É incontroverso que o número de diagnósticos de depressão aumentou de forma exponencial nas últimas décadas, ganhando ares epidêmicos e inclusive sendo assim abordada por muito teóricos.

Entretanto, a validade desses diagnósticos tem sido contestada por acadêmicos, teóricos, psiquiatras, psicólogos e pela sociedade. E não apenas a validade, mas também o que subjaz a esse crescimento vertiginoso, o descomunal crescimento do comércio de antidepressivos, ou seja, de um “coincidente” aumento das recitas da indústria farmacêutica, conforme Machado & Ferreira:

O crescimento de diagnósticos de depressão verificado na atualidade vem acompanhado da ampliação do mercado da indústria farmacêutica, do comércio de antidepressivos e do fenômeno da medicalização da vida. Essa “epidemia de depressão”, assim denominada pelo sociólogo Philippe Pignarre, é um fenômeno complexo que não deve ser reduzido a fatores unicamente biológicos ou sociais, mas carrega em seu bojo uma economia de fármacos em expansão. (MACHADO; FERREIRA, 2014, p.135).

Mas o que estaria por trás dessa expansão concomitante entre os diagnósticos de depressão e a indústria dos psicofármacos? Qual seria a relação de causalidade? Para MACHADO & FERREIRA (2014) é inegável a participação da indústria farmacêutica, um dos setores econômicos mais rentáveis do mundo, na expansão desse fenômeno. Nesse mesmo sentido, Santos & Farias dizem que:

O fenômeno da medicalização da vida é latente na sociedade contemporânea. Em seu conjunto está o crescimento acelerado da indústria farmacêutica, alocando a produção de medicamentos como o segundo setor mais rentável do mundo [...] (SANTOS; FARIAS, 2010, p. 279)

Pode-se dizer que a sociedade experimenta um processo de medicalização da vida, em que os problemas de cunho subjetivo, psíquicos e mesmo sociais, ou seja, não bio/fisiológicos são catalogados e agrupados com diagnósticos em manuais universais, transformando assim:

[...] problemas exteriores ao corpo biológico em distúrbios, transtornos e disfunções biológicas passíveis de tratamento medicamentoso, entre os quais o carro-chefe é a depressão. A depressão, mais do que um transtorno, passa a ser um modo de subjetivação. Em outros termos, ser “deprimido” é uma identidade, um modo de produzir sujeitos medicalizados que se definem a partir do que os acomete. (MACHADO; FERREIRA, 2014, p.137).

Sendo assim, os psicofármacos não estariam em franca ascensão por causa do aumento do número de acometidos e/ou diagnosticados com transtornos depressivos, mas ao contrário; o número de diagnosticados aumentou na medida do interesse mercadológico das grandes corporações farmacêuticas. Pois, na perspectiva econômica, é possível afirmar que: [...] “além de uma epidemia, síndrome ou doença, a depressão é antes de tudo um nicho de mercado, e o funcionamento de um mercado depende, primeiramente, da criação de ofertas” (PIGNARRE, 2012 apud MACHADO; FERREIRA, 2014, p.139).

Pode-se observar ainda que a indústria farmacêutica pretende disseminar os psicofármacos como produtos que são eficazes e necessários, por isso:

A indústria farmacêutica busca elevar seus medicamentos a um patamar de produto a ser consumido, usando de dados estatísticos por ela patrocinados, muitas vezes eticamente questionáveis, para balizar sua eficácia Além disso, esse quadro conta ainda com o fator publicitário, entre os quais figuram a publicidade direcionada aos médicos em troca de “recompensas” e a publicidade direta e indireta ao consumidor. (CAMARGO, 2010, apud MACHADO; FERREIRA, 2014, p.137).

Produz-se, em decorrência disto, uma forma de subjetivação, e nesse processo de construção social da medicalização da vida e da fragorosa necessidade de consumir, a sociedade adere e consome o seu enquadramento a um diagnóstico, dentre os tantos possíveis destaca-se o da depressão.

E mais, o mercado farmacêutico não se restringe aos medicamentos, mas expande-se por toda uma rede organizada e bem planejada de ações, dentre estas encontram-se os financiamentos:

[...] Médicos psiquiatras norte-americanos são financiados pelos laboratórios farmacêuticos para proferir conferências sobre seus medicamentos. Cursos para diagnosticar transtornos mentais são ministrados, revistas médicas são financiadas para a publicação de resultados favoráveis aos medicamentos [...] (SANTOS; FARIAS, 2010, p.284).

Em outras palavras, criou-se e propagandeou-se a forma de ser e existir como deprimido, para tal foram usados alguns instrumentos, dentre os quais: os manuais diagnósticos “cientificamente comprovados”, a propaganda da necessidade de ser diagnosticado e compulsoriamente medicado, com vistas a uma vida bem-sucedida e feliz. E há ainda os financiamentos das pesquisas que “comprovam” os diagnósticos e a eficácia dos antidepressivos.

Decorre de todo o exposto que, o processo de medicalização da vida que é muito amplo e envolve muitos fatores além dos conglomerados farmacêuticos, é inegavelmente propulsionado pela indústria farmacêutica, sobretudo no que tange aos psicofármacos e resulta num emaranhado que amplia os diagnósticos formatados pelo DSM-V.

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Psicólogo Domingos

Atuo com um sistema de psicoterapia bastante eficaz e integrativa, que torna o proceso terapêutico mais enxuto e produtivo, adequando-se a cada paciente.

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Domingos Fernandes - Doctoralia.com.br