Depressão, a doença do século! Será mesmo?

3/6 Depressão, a doença do século! Será mesmo?

15/11/2019

Este post é a terceira parte de um artigo de autoria do Psicólogo Domingos.
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Depressão é doença?

Seria a depressão efetivamente uma doença? É inegável que a depressão ou os transtornos depressivos produzem sofrimento e inclusive podem fomentar o suicídio, mas poderia ela ser categorizada como uma doença, no estrito senso biomédico, tal como é midiaticamente propagandeado?

Não se discute que a depressão seja um transtorno no sentido de que ela produz e infunde sofrimento na existência humana. O que se coloca sob um prisma de dúvida aqui, é a sua captura pelo modelo biomédico no que tange o conceito de doença.

Mas o que é o modelo biomédico? É uma forma de olhar o ser humano a partir do prisma bio/fisiológico, de modo a delimitar a origem ou a causa dos problemas de saúde aos aspectos físicos e biológicos. Tal como explicitado por Pires:

O modelo biomédico é o paradigma em que a prática da medicina clínica é fundada: os sintomas são vistos como manifestações de processos fisiológicos patológicos (doença) que é diagnosticada e depois tratada com os métodos disponíveis. [...] É um paradigma, uma lente através da qual os médicos e algumas pessoas percebem certos fenômenos anormais, como leucemia, diabetes, e agora a depressão e muitos outros transtornos mentais[...] [...]No entanto no que diz respeito a algumas “condições” como a depressão (desordens do foro psicológico), o modelo biomédico é redutor e inapropriado [...] (PIRES, 2002, p.52)

Para a medicina clássica, doença é um “processo e um estado causado por uma afecção num ser vivo, que altera o seu estado ontológico de saúde.” (SCLIAR, 2007, p.34). Nesse sentido, falar em doença é falar numa condição de disfunção fisiológica, biológica ou física, não atentando aos atravessamentos psicológicos, culturais, sociais e mesmo econômicos do sujeito, ou pelo menos com um claro demérito a estes aspectos.

Contrariamente a esse paradigma biomédico da saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) expandiu o conceito e propõe hoje que saúde seja: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de afecções e enfermidades”. (SCLIAR, 2007, p.36).

Pode-se afirmar, com segurança, que o conceito de saúde e doença não são estáticos no tempo, e também variam de cultura para cultura, refletindo:

[...] a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja: saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais, dependerá de concepções científicas, religiosas, filosóficas. O mesmo, aliás, pode ser dito das doenças. (SCLIAR, 2007, p.30).

Por isso, o modelo de saúde biomédico tão amplamente adotado e propalado durante o século XX, sendo de longe muito mais evoluído e científico do que os seus predecessores, enfrenta duras críticas, uma vez que a perspectiva do modelo biomédico restringe-se ao médico e foca-se na enfermidade, buscando uma intervenção com vistas à restauração da saúde física/biológica, não havendo preocupação com outros aspectos constituintes do ser humano, como por exemplo sua condição psicossocial.

Por outro lado, há um conceito de saúde mais amplo, mais inclusivista, que tenta captar os impactos dos aspectos sociais e psicológicos na formação e/ou deformação do ser humano, e que vem se fortalecendo nas últimas décadas, trata-se do modelo biopsicossocial, mais completo, amplo e atual.

O modelo biopsicossocial permite que a doença seja vista como o resultado da interação de mecanismos biológicos, interpessoais e ambientais; sendo certo que “os fatores psicossociais podem operar para facilitar, manter ou modificar o curso da doença.” (BIO; GOMES, 2011, p.47).

Pode ser que, tal como afirma Pires (2002), a depressão não seja uma doença, e é certo que circunscrevê-la ao espectro da neurobiologia cerebral é ignorar inúmeros fatores psicossociais imprescindíveis à correta leitura da existência humana e das suas aflições.

Os próprios Manuais classificam a depressão como transtorno. Não podem classificá-la como doença: “dado que não há definição de etiologia fisiopatológica específica que a caracterize como tal.” (QUINTELLA, 2010, p.91).

O que resta, portanto, é que a depressão é um problema, produz sofrimento e deflagra um estado debilitante, mas não se pode reduzi-la a uma compreensão que apenas se presta a produzir mercado para os psicofármacos.

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Psicólogo Domingos

Atuo com um sistema de psicoterapia bastante eficaz e integrativa, que torna o proceso terapêutico mais enxuto e produtivo, adequando-se a cada paciente.

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Domingos Fernandes - Doctoralia.com.br