Como diagnosticar?
O que é depressão, quais as características diagnósticas? Para se responder essas questões, será utilizado o DSM, pois para se estabelecer um conceito de depressão e traçar os seus critérios diagnósticos, nada mais direto do que valer-se do manual diagnóstico dos transtornos mentais, utilizado pela Associação de Psiquiatria Americana, qual seja: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, o DSM, em sua última edição, a quinta.
De acordo com DSM-V, os transtornos depressivos são mais numerosos e complexos do que se possa supor em uma imagem rápida, e incluem:
[...] o transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior), transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado. (APA, 2014, p.155).
E tem como características comuns:
[...] a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. O que difere entre eles são os aspectos de duração, momento ou etiologia presumida. (APA, 2014, p.155).
No que tange ao presente recorte o termo depressão será utilizado em sinônimo ao Transtorno Depressivo Maior (incluindo-se o episódio depressivo maior). Mas o que são esses transtornos? Como eles são manifestos e diagnosticados?
Segundo o DSM-V, o TDM (transtorno depressivo maior) tem como característica essencial: “[...] um período de pelo menos duas semanas durante as quais há um humor depressivo ou perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades” (APA, 2014, p.162).
Mas isso não poderia ser simplesmente confundido com uma tristeza eventual, ou com um luto propriamente dito? Para essa diferenciação, o DSM-V estabelece critérios mais específicos na tentativa de delimitar o que se afirma como TDM.
Transcreve-se integralmente, portanto, os critérios diagnósticos com vistas a elucidar e delimitar como se identificar o TDM. Seguem abaixo os critérios diagnósticos elencados no DSM-V:
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a outra condição médica.
SINTOMAS:
A.1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.)
A.2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).
A.3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.)
A.4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias.
A.5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
A.6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
A.7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).
A.8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas).
A.9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.
B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.
Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior.
Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de um episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, também deve ser cuidadosamente considerada. Essa decisão requer inevitavelmente o exercício do julgamento clínico baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de sofrimento no contexto de uma perda.
D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado.
E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco.
Nota: Essa exclusão não se aplica se todos os episódios do tipo maníaco ou do tipo hipomaníaco são induzidos por substância ou são atribuíveis aos efeitos psicológicos de outra condição médica. (APA, 2014, p.160).
Portanto, com respeito ao TDM, o DSM-V dispõe os critérios A, B e C como seus delimitadores representativos. Suas características mais essenciais são o humor triste e vazio, acompanhado da diminuição do interesse nas atividades anteriormente tidas como prazerosas. Esses sintomas causam sofrimento e prejuízo pessoal, social e profissional, pois a capacidade de agir, pensar e sentir ficam comprometidas neste período.
Segundo Del Porto, os sintomas podem ser resumidos e separados nas seguintes categorias:
1-sintomas psíquicos: a) humor depressivo, b) redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis, c) fadiga ou sensação de perda de energia e d)diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões; 2-sintomas fisiológicos: a)alterações do sono, b)alterações do apetite e c)redução do interesse sexual; 3-sintomas ou evidências comportamentais: a) retraimento social, b) crises de choro, c) comportamentos suicidas, d)retardo psicomotor e e)lentificação generalizada, ou agitação psicomotora. (DEL PORTO, 1999, p.7).
A depressão ainda pode ser classificada como leve, moderada e grave, na medida da sua gradação, e também como contendo características psicóticas, esta última ocorrendo mais frequentemente nos episódios depressivos do Transtorno Bipolar.
Vale destacar, que conquanto a característica mais recorrente dos estados depressivos seja a ênfase dos sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os indivíduos relatam a sensação subjetiva de tristeza. Para muitos, o elemento mais marcante é a perda da capacidade de experimentar prazer nas atividades em geral e a redução do interesse pelos estímulos ambientais outrora excitantes.