O que exatamente é o transtorno bipolar? Quais as suas características? E em rápida resposta pode-se dizer que: o transtorno bipolar, que era conhecido como transtorno maníaco-depressivo até o DSM-III, pode ser caracterizado, em linhas gerais, pela oscilação do humor que se manifesta em fases, mais precisamente os episódios maníacos, episódios hipomaníacos e os episódios depressivos maiores, ou ainda pela manifestação da fase mista, com a observância mínima de ao menos uma semana.
Cabe ressaltar que essas fases são realmente períodos, ou seja, não se referem a pessoa que num mesmo dia varia de humor, o que representaria uma labilidade emocional e não o transtorno bipolar em si. Poder-se-ia evocar o episódio misto como alegação de que a mera alternância do humor ao longo de um dia bastaria para se diagnosticar o transtorno bipolar, contudo, existem outras condições necessárias para se atestar a presença do transtorno, não se restringindo meramente a uma oscilação do humor no intervalo de um dia. O episódio misto, por exemplo, caracteriza-se por um período de tempo (no mínimo 1 semana) durante o qual são satisfeitos os critérios tanto para o episódio maníaco quanto para o episódio depressivo maior, quase todos os dias; ou seja, mesmo no episódio misto faz-se necessária a apresentação um período ou episódio para a correta caracterização do transtorno.
O mesmo pode ser dito acerca do "cliclador rápido", mesmo que os ciclos sejam bem mais rápidos, com períodos de remissão curtos, remanesce a manifestação do ciclo, ou fase ou episódio. Tal como dispõe Dalgalarrondo:
Para o diagnóstico do tipo 'ciclador' rápido, é necessário que o paciente tenha apresentado, nos últimos 12 meses, pelo menos quatro episódios de mania. Para dois episódios de mesma polaridade, deve-se verificar intervalos de dois meses de humor normal ou, no caso de episódios de polaridade distinta, guinada para episódio de polaridade oposta (sem necessidade de períodos intermediários de normalidade do humor (DALGALARRONDO, 2008, p. 316).
Mas o que vem a ser episódio maníaco, hipomaníaco e depressivo maior? Para responder a essa questão, é fundamental consultar o guia referencial comumente utilizado para a base diagnóstica, qual seja o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais. E com respeito ao Episódio Maníaco o DSM-V dispõe os critérios A,B,C e D como indicativos para o correto diagnóstico, tal como se segue, resumidamente:
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana;
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas deverão estar presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual: 1. Autoestima inflada ou grandiosidade. 2. Redução da necessidade de sono. 3. Mais loquaz que o habitual. 4. Fuga de ideias. 5. Distratibilidade. 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos ou agitação psicomotora. 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas;
C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional;
D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. (APA, 2014, p. 168).
Portanto, em linhas gerais, o episódio maníaco pode ser descrito como um estado de ânimo eufórico, expansivo e geralmente incondizente com a situação; comumente acompanhando do aumento da autoestima ou grandiosidade, assim como de uma linguagem verborreia, de um estado de agitação psicomotora e da busca da realização excessiva de atividades prazerosas.
Com respeito ao Episódio Hipomaníaco o DSM-V dispõe critérios muito similares aos do episódio maníaco, e pode-se afirmar diminutamente que as diferenças se circunscrevem a intensidade e ao período, ou seja, no episódio hipomaníaco os sintomas são mais tênues, menos intensos; os períodos ou ciclos são mais breves, por exemplo: na mania a duração mínima é de uma semana enquanto na hipomania é de quatro dias.
Com respeito ao Episódio Depressivo Maior é o que vulgarmente é chamado de depressão. Suas características mais essenciais são o humor triste e vazio, acompanhado da diminuição do interesse nas atividades anteriormente tidas como prazerosas. Esses sintomas causam sofrimento e prejuízo pessoal, social e profissional, pois a capacidade de agir, pensar e sentir ficam comprometidas neste período. Sugiro a leitura do artigo sobre depressão nesse mesmo blog.
E o que vem a ser o Estado Misto? Há uma certa confusão no que tange os episódios mistos, pois estados maníacos e depressivos são vistos claramente como polos opostos, contudo os episódios mistos são definidos como "uma combinação de sintomas de mania e depressão em três domínios: humor, atividade e pensamento." (SCHWARTZMANN; LAFER, 2004, p.7). Dessa forma, o diagnóstico fica mais difícil, bem como o tratamento, o que pode inclusive agravar o quadro no caso de um prescrição medicamentosa inadequada, tal como afirmado por SCHWARTZMANN & LAFER:
Estados mistos representam um quadro agudo dentro do transtorno bipolar de maior dificuldade no diagnóstico, com curso e prognóstico mais reservado e, portanto, maior dificuldade de tratamento. Quando não identificados, o uso de antidepressivos isoladamente agrava não só o episódio, com maior risco de suicídio, mas também o curso da doença. (SCHWARTZMANN; LAFER, 2004, p.9)
Por fim, conforme já mencionado, o Transtorno Bipolar com Ciclagem Rápida, carrega alterações de humor mais constantes, porém mantém o ciclo, ou seja, mesmo no caso da ciclagem rápida existe o que se pode chamar de período, e a alteração de humor em dias isolados por si só não configuram o diagnóstico bipolar, tal como visto no DSM-V:
A característica essencial de um transtorno bipolar de ciclagem rápida é a ocorrência de pelo menos quatro episódios de humor durante os 12 meses anteriores. Esses episódios podem ocorrer em qualquer combinação e ordem. Devem atender a critérios de duração e quantidade de sintomas para episódio depressivo maior, maníaco ou hipomaníaco, devendo também ser demarcados por um período de remissão completa ou por uma troca para um episódio da polaridade oposta. (APA, 2014, p. 194).
